terça-feira, 16 de setembro de 2014

entrevista na Ele Ela (1986) com o Fernando Gabeira

Dia desses comprei uma Ele Ela de março de 1986 com a Edna Velho (que virou atriz da Praça É Nossa e também mãe de um dos filhos do Romário) na capa num sebo no centro da cidade (veja aqui a capa da revista).

Comprei pra ler a entrevista com o Fernando Gabeira, que, naquele mesmo ano, se candidatou ao governo do estado do Rio de Janeiro pelo Partido Verde (o artigo da Wikipedia diz que foi pelo Partido dos Trabalhadores) contra o Moreira Franco e o Darcy Ribeiro. A eleição iria decidir quem seria o sucessor de Leonel Brizola, que estava em seu 1o mandato como governador do estado.

Na época ele tinha 45 anos e já era um maluco beleza, mas com pé no chão. Se declarava adepto da teoria de Desobediência Civil. A entrevista foi realizada por Sérgio Costa. Segue abaixo:

ELE ELAFernando Gabeira, você é realmente candidato ao governo do Estado do Rio de Janeiro?
Fernando Gabeira – Sou.

- E como surgiu essa candidatura?
- Há cerca de um ano nós estamos fazendo um trabalho de base no Rio de Janeiro para deflagrar o movimento ecológico e o Partido Verde. Ao longo deste trabalho, nós constituímos com outros companheiros um organismo Assembléia Permanente do Meio Ambiente, onde se reúnem todos os grupos que estão trabalhando com ecologia no Rio de Janeiro, mais algumas associações de moradores que têm problemas específicos ligados a isso e outras entidades como a FAMERJ (Federação das Associações de Moradores do Rio). Simultaneamente, estamos criando grupos que estudam questões específicas do Rio de Janeiro. Esse trabalho ampliou muito meu conhecimento sobre os problemas ecológicos e me deu uma base para entender que é possível fazer alguma coisa.

Ao mesmo tempo, na medida em que a situação que está aí foi ficando mais grave, sobretudo a partir da morte de Tancredo, senti que precisava me envolver pessoalmente na tarefa de transformação do país de uma maneira mais decidida.

- Isso quer dizer que, até então, não passava pela sua cabeça uma atuação política mais específica?
- Sempre esteve. Eu considero que até a minha vagabundagem foi uma preparação para esse momento. Porque era uma vagabundagem dedicada a conhecer mais o Brasil. Conversar com as pessoas, leituras, meditações em Alcântara, em Porto Seguro, no interior de Minas, as voltas pelo Brasil, tudo isso foi um processo de acumulação de conhecimento e de energia para começar este trabalho. A morte de Tancredo revelou que o Brasil é muito dependente de um líder, de líderes que conduzam seu processo. E eu compreendi que é possível contribuir para transformar esse processo inaugurando políticas que estimulem as pessoas a assumirem suas responsabilidades.

- E você, pessoalmente, em determinado momento também se colocaria como líder?
- Exatamente. Para negar isso adiante. Você se coloca como um líder num determinado momento para mostrar às pessoas que elas podem superar essa dependência. Acontece que, quem tem se colocado assim é para ficar líder para sempre. A gente acha que é possível conduzir as pessoas a ter uma confiança maior na organização coletiva.

- Politicamente, como você pretende viabilizar essa candidatura?
- Eu tenho o apoio do Partido Verde com o qual trabalho, do Partido Humanista, o PT deve decidir em breve…

- Algum problema com o PT?
- Nenhum. As coisas têm marchado muito tranquilamente…

- Estou perguntando porque o PT aqui do Rio é meio assim…
- É, eles estavam meio assim, mas agora é uma chance para eles também pegarem um barco mais amplo, mais aberto. E o PSB, que ainda vai examinar a questão, ainda não está definido, para o PSB ainda há certos problemas porque é um grupo com posições mais… mais assim…

- Ortodoxas?
- É, ortodoxas.

- E é para vencer, Fernando?
- É para vencer. Vamos disputar para ganhar.

- E em que faixa do eleitorado você acha que corre sua candidatura?
- A gente já sabe que na classe média nossa candidatura tem uma boa penetração. E nela, entre as mulheres e os jovens, muito boa. Mas eu acho que existe a possibilidade muito grande de uma relação com um lado do Rio para o qual meu trabalho também está voltado, que é o lado mais marginalizado, mais marginal, do morro, da favela, pelo trabalho que tenho sobretudo no campo dos direitos humanos, as denúncias da violência policial, do racismo. Isso tudo pode servir como uma ponte de aproximação.

- Em que linguagem? Essas pessoas, eu acho, estão de uma maneira geral mais acostumadas a terem como referencial político a figura paternalista de um Brizola, por exemplo. Ou seja, acho que têm uma visão mais clássica do político.
- Eu acho que a linguagem fica mais difícil quando você coloca a coisa política. Mas eu trabalho nas cadeias, tenho contato e discuto com presos quando vou às cadeias e eles não têm nenhuma dúvida de que sou um político fazendo um tipo de política que eles entendem perfeitamente. Freqüento os morros trabalhando, converso com as pessoas e sou muito bem recebido. Subo e desço os morros sem dizer “sou fulano de tal”. Agora, enquanto candidato, vai ser mais fácil. É evidente que eu não tenho nada para oferecer às pessoas além da possibilidade de lutarmos juntos e nisso eu fico em desvantagem em relação àqueles setores que podem oferecer coisas concretas, materiais inclusive.

- Você é uma pessoa com bom trânsito na imprensa, a despeito de ser também um jornalista, e acho que isso vai ser importante para sua candidatura, mas, por outro lado, as últimas eleições mostraram a importância da televisão para decidir as paradas, do debate com os outros candidatos, como você se sente em relação a isso?
- Nossa campanha vai se desenvolver muito nitidamente na televisão, mas acho que ela tem uma coisa que limita muito ao fazer do público espectador de um debate entre pessoas inteligentes e articuladas e não coloca muito a questão da participação. A minha diferença em relação aos outros candidatos é que estou na rua, lutando junto com as pessoas, estou correndo da polícia junto com elas. Essa é a diferença fundamental.

- Gabeira, que análise você faria do governo Brizola no Rio de Janeiro?
- Há dias fui perguntado por uma repórter, a partir de uma proposta da Frente Liberal, se toparia participar de uma frente anti-Brizola. Eu respondi que não era antininguém e sim a favor de um programa alternativo de governo que já estava tentando formular com outros companheiros. Que nós éramos a favor da construção de uma experiência nova no Rio de Janeiro que possa repercutir positivamente em outras experiências latentes no Brasil. Então, não tenho muito tempo de ser contra o Brizola. Evidentemente, sei distinguir uma coisa que faz parte do meu compromisso com o PT, no caso de nós virmos a marchar juntos, de ser oposição ao Brizola no campo estadual. Mas em nível federal, em certas circunstâncias que ainda não estão definidas, muito possivelmente a gente caminhará junto.

Aqui no Rio, o governo dele teve algumas intuições interessantes, como a de sair construindo escolas, CIEPs, mas cometeu uma série de erros que devem ser examinados e criticados. Ele tem uma tendência muito forte À centralização, a não permitir que as pessoas decidam, o que atrapalha muito o processo de desenvolvimento delas. Ele construiu as escolas sem fazer uma crítica do que é o processo de educação mesmo, o que é educação, como se a escola em si fosse uma coisa ótima. Ele definiu esse caminho de construir escolas e abandonou muito outros setores como o da saúde, por exemplo, que é um setor vital e está caótico. Ele não avançou quase nada no setor de segurança das penitenciárias que não depende só dele, mas que ele poderia contribuir muito. O governo do Brizola fez apenas um pouco mais do que os outros governos conservadores que estiveram por aí. Pode ser suficiente para o povo gostar dele tomando como referência os governos anteriores, mas ainda é uma proposta muito atrasada para as necessidades do Brasil.

- Qual será a prioridade de seu governo?
- Justiça social. Vamos tentar melhorar a qualidade de vida da população num quadro de crise econômica, política e moral. Nossa prioridade é transformar as condições de vida da população mais pobre e, ao mesmo tempo, tentar evitar o processo de degradação e decadência das condições ambientais do Rio e do resto do estado. Ou seja, corrigir a distorção, que é o elemento fundamental da história do Brasil contemporâneo, da distância entre pobres e ricos. Desenvolver o Rio no conjunto com a perspectiva de progresso que leve em conta a preservação do meio ambiente, dos recursos naturais não renováveis, das belezas naturais. Para isso é preciso fazer um governo capaz de apresentar soluções que estão fora das possibilidades dos conservadores que seja originais e baratas, pois nós vamos trabalhar num quadro de crise e de muito poucos recursos.

- Dê um exemplo disso.
- Um dos maiores problemas do Brasil são as crianças abandonadas. Chegam a oito milhões. Não tenho uma estatística de quantas delas estão no Rio, mas vamos fazer um projeto que em seis meses altere esta situação radicalmente. Só que para fazer este projeto nós não temos dinheiro. Onde estaria a solução original? Na legalização do jogo do bicho. Não é estatizar, veja bem, é legalizar. Acoplar fiscais aos computadores dos bicheiros e transformá-los em empresários sérios, respeitáveis. Com o dinheiro que virá disso, criaremos escolas e oficinas de rua.

- Como pensa em realizar isso com o estado apoiado em cima de uma burocracia tão decadente e emperrada?
- Nós já enfrentamos o Exército com revólveres 22 enferrujados e a polícia de braços abertos na nossa desobediência civil pacífica. Se formos eleitos com apoio popular, não vamos nos dobrar diante de uma burocracia corrupta. Eles vão se defrontar pela primeira vez com um governo popular. E o governo popular é muito mais forte que qualquer governo militar, porque tem por detrás, a decisão do povo que se deve botar para trabalhar quem nunca trabalhou e se demitir quem vive à custa da população sem fazer nada. Esse choque inevitável nós levaremos vantagem. Será a briga mais fascinante do do princípio do governo. O Brasil vai se transformar num país sério em que a burocracia seja realmente uma coisa voltada para atender aos interesses do povo, impessoalmente, independente de padrinhos, cupinchas ou pistolões.

- Por falar em Brasil, como você vê essa reviravolta na economia do país?
- Esse pacote foi um pouco baseado na experiência argentina. Só que quando você começa a comparar a experiência argentina com a brasileira, encontra uma diferença básica: eles têm um governo eleito com apoio de 75% da população. A Argentina tem um governo eleito no qual ela confia para conduzir o país nessa crise. Há um acordo político lá que não existe por aqui. O governo que está no poder hoje não tem o mesmo nível de apoio popular ativo que o argentino, o que desloca um pouco as possibilidades do plano. Em segundo lugar, o plano tanto lá como cá traz uma perda de poder aquisitivo da classe operária e demais assalariados. Na Argentina, houve uma perda de 20% que a classe operária está suportando em função do acordo político, mas no Brasil essa perda ainda não está determinada, mas você já pode ver mecanismos que justificam temer a desvantagem para os pobres. Primeiro congelam os salários e os preços – o salário é fácil, porque é o patrão que paga, mas os preços são difíceis porque a Sunab tem um número irrelevante de fiscais e tá todo mundo remarcando os preços freneticamente hoje (a entrevista foi feita no dia do pronunciamento do Presidente Sarney). Quer dizer, os salários está implacavelmente congelados e os preços flexivelmente congelados.

- Bom, mas é aí que entra participação popular. Ou o povo ajuda a fiscalizar os preços ou ele entra pelo cano…
- Ainda que o povo fiscalize, existe elementos difíceis de serem controlados. Produtos que nem todo mundo sabe exatamente qual é o preço.

- Qual foi a jogada do governo na sua opinião?
- A elite que está no poder é, na verdade, o segundo fôlego da ditadura. Nós estamos assistindo a uma segunda morte da ditadura. A ditadura militar caiu e em seu lugar veio o esquema da dissidência do PDS. Eles tomaram essas medidas – a questão chamando Programa de Estabilidade – numa relação muito grande com os credores externos, diante dos quais eles estão pressionados a conter a inflação, e diante de uma situação interna também problemática, uma vez que a especulação está cada vez maior e o envolvimento no processo produtivo cada vez menor. Então resolveram, num tratamento de choque geral, penalizar um pouco os trabalhadores, garantir um pouco mais de sacrifícios por parte deles, mandar um recado as credores externos no sentido de que estamos dispostos a tudo para conter a inflação e finalmente tentar rever um pouco esta situação especulativa em que os capitais rolam muito mais nos processos financeiros do que nos produtivos. As intenções são essas. Agora, eles estão jogando tudo. Depois do fracasso desse plano tudo pode acontecer…

- Você está especulando o fracasso do plano ou afirmando isso?
- Acredito que o plano vai fracassar. Primeiro porque não acho que a inflação seja produto de uma série de medidas financeiras que se altere com outra série de medidas financeiras. No meu entender, a inflação é produto de situações objetivas, de relações sociais muito claras que permanecem intocadas. Vem um e diz “a inflação é provocada pelo aumento dos produtos agrícolas”; ora, você vai congelar o preço dos produtos agrícolas para baixar a inflação? Isso não pode. Você só altera a situação dos preços agrícolas no dia em que realmente aceitar a idéia de que se tem de fazer uma reforma agrária. E a reforma agrária eles não têm coragem de fazer.

- Mas a idéia que está rolando por aí é a de que “alguma-coisa-precisava-ser-feita”.
- Bom, foi mais uma admissão de que a inflação está sem controle e nesse processo se perderia toda a credibilidade dos banqueiros internacionais. Tiveram que tentar uma outra saída porque neste pique a própria margem de lucro do capital está ameaçada. Daí a reorganização da economia.

- E como isca para novos capitais internacionais investirem por aqui?
- Não creio. O que ele pode tentar incentivar é o deslocamento internamente do capital produtivo, que é uma das esperanças claras do Funaro e ele tem dito isso claramente. Mas vamos imaginar as primeiras horas do plano. Em primeiro lugar, o plano vazou. Logo, os especuladores, que seriam o alvo, levaram uma grande vantagem em dois dias.

- Mas você falou antes que diante do fracasso desse projeto tudo pode acontecer. A gente podia especular um pouco sobre isso.
- Claro. A história moderna… não diria nem a história moderna, eu diria a história recentíssima, nos mostra que tudo é esse que pode acontecer. E eles receberam aí em Fernando de Noronha um amigo ilustre, chefe da polícia de Baby Doc no Haiti, que podia contar o que que pode acontecer. Ou seja, pode acontecer o que houve no Haiti, ou nas Filipinas, ou pode acontecer aquilo que nós sempre propusemos de uma maneira pacífica: Aceitem o direito do povo escolher seus representantes. Parem de usurpar.

- Ou ainda pode acontecer uma messianização do processo político brasileiro com o povo entregando o poder a um Messias que pinte como o seu redentor…
- Não tem dúvida que isso também pode. Mas, mesmo assim, ainda seria um processo de escolha direta e você não pode impedir que o povo tenha um Messias, mas pode evitar que ele tenha um ditador. Você pode lutar contra isso, como nós o fazemos, no sentido de buscar um tipo de política que fortaleça a organização popular.

- Fernando, você tem sido um dos responsáveis pela divulgação nestes últimos dias, principalmente, de uma forma de luta chamada Desobediência Civil, inclusive com o ato – desobediência à censura do Presidente Sarney ao filme do Godard, Je Vous Salue Marie. Explica melhor esse termo.
- Essa questão me interessou muito desde o momento em que passei a ver uma perspectiva pacífica de transformação da sociedade, a desacreditar no processo de transformação do Brasil pela luta armada. Passei, então, a buscar experiências políticas que resolvessem uma falsa associação que se tem normalmente entre não-violência e passividade. Nesse processo intensificou-se também o intercâmbio cultural com o Oriente, passou-se a ler muito sobre o Oriente, sobre a Índia, por exemplo, e a figura do Gandhi ganhou importância, não só para mim, mas a para o mundo inteiro, tanto que virou um filme de repercussão internacional. O Gandhi na África do Sul e na Índia utilizou muito o recurso da desobediência civil pacífica. E eu li na biografia dele que esse trabalho era fruto da leitura de um trabalho do Thoreau chamado Desobedeça. Comecei, então a desenvolver trabalho político, colocando a questão da resistência pacífica e a formular e desenvolver um trabalho político e teórico para deixar as bases para a prática. Procurei com ele uma editora para lançar Desobedeça e com ele as bases para implantar alguma informação teórica que possa num determinado momento vir a ser útil para o Brasil.

- E quais são os momentos da prática da desobediência?
- Surgiram vários momentos da prática para mim, mas eles estavam circunscritos à intervenção, junto com outras pessoas famosas, nas comissões de Direitos Humanos que a gente formou para entrar nos presídios e instituições totais.

Agora com a proibição do Je Vous Salue, Marie abriu-se uma possibilidade de colocar esta questão em termos mais amplos, ou seja, desobedecer. Se tivéssemos colocado a desobediência civil como forma de luta para conduzir as diretas a gente teria vencido.

- A manifestação de desobediência à proibição do Je Vous Salue, Marie visou revelar a verdadeira face da chamada Nova República?
- A questão da proibição do filme é vital para a nossa concepção política. Se nós deixássemos essa questão sem uma participação política, estaríamos com um programa esquizofrênico, um programa que não achava a concreção nas lutas cotidianas, o elo entre ele e as lutas cotidianas. Nós somos contra a proibição do Je Vous Salue, MArie porque somos contra a censura e sabemos que ela não acaba com uma festa no teatro Casa Grande e sim na rua, na luta de rua pela liberdade de expressão e circulação de idéias no Brasil que, quanto maior for, melhor, mais crescimento teremos. Nós vivemos da iluminação e não do obscurantismo. E o ato teme também o efeito pedagógico de mostrar que para tudo que queremos para a sociedade brasileira é preciso de lutar um pouco para conseguir. Nada nos será dado como uma dádiva do céu.

- Gabeira, quando você retornou do exílio na Suécia trouxe uma discussão a respeito de política do corpo, política sexual, e eu queria saber se isso ainda é uma questão fundamental no seu modo de entender?
- É um prioridade do nosso governo. O esporte, por exemplo, a política relacionada com o esporte, a minha perspectiva é a de democratizar a prática do esporte. Nós vivemos numa cidade em que a prática do esporte é bastante concentrada. A piscina do Maracanã vivia fechada. Os garotos tinham que pular o muro para nadar até que um dia o diretor percebeu e abriu os portões. Existe uma demanda popular muito grande em relação à prática do esporte e uma infra-estrutura social pequena para isso, mas não do ponto de vista competitivo, que pode ser contra uma política contra o corpo e não do corpo. Nós queríamos estimular um processo corporal, a partir do esporte democratizado, voltado para autoconhecimento e autodesenvolvimento pessoal.

Outro dado fundamental para a política do corpo é a da questão da interrupção da gravidez. Um dos movimentos fundamentais do pós-68 foi o feminista e nós vamos encampar um de seus slogans mais importantes na nossa campanha: “Nosso corpo nos pertence”. Qualquer governo humanitário tem que contribuir para que as mulheres tenham seus filhos dentro das melhores condições possíveis mas, também, tem que dar a elas as condições para que interrompam, com o máximo de segurança e apoio, sua gravidez quando assim o decidirem. Nós temos dois milhões de abortos por ano no Brasil e só uma minoria tem acesso a meios seguros, higiênicos e sofisticados.

- E as questões sobre as relações humanas, sobre as relações amorosas, como está a sua cabeça nesse sentido?
- Eu tenho trabalhado muito sobre esse assunto. No Diário da Crise publiquei um trabalho sobre relações sentimentais baseado também na discussão marxista de ponta de alguns sociólogos que estavam mergulhados nesse assunto e que andei pensando pelo meu lado e tentando aplicar um pouco ao Brasil para ver qual era a saída para as relações sentimentais. Sobre muitos aspectos, a família como nós a conhecemos hoje está desaparecendo. Mas nós não inventamos novas fórmulas de relação. A família com um só responsável está se tornando a maioria nas grandes cidades. A Família nuclear burguesa, pai-mãe-filho-filha, está sendo substituída por relações de pai-filho ou mãe-filho. Isto já é uma alteração substancial nas relações provocada pelo próprio desenvolvimento do mundo moderno. Tenho pensado muito sobre isso no campo do futuro da família e das formas de organização que a gente vai ter e muito também na questão do ciúme, como sobrevivência parcial da perspectiva da propriedade privada. Abriu-se para nós um campo de trabalho mais específico. Em vez de fazer a denúncia sistemática disso na sociedade, estamos começando também a realizar discussões específicas sobre a crise do homem e sua adaptação aos novos tempos. Realizamos em São Paulo o 1o Simpósio do Homem onde fiz uma intervenção sobre isso. Sobre as alterações que o homem está passando e vai passar e que ele deve se unir para discutir.

- Quais questões, por exemplo?
- Os homens, hoje, em grande parte já cuidam de crianças desde o parto. E os que tiveram participação ativa nos partos das mães de seus filhos já têm uma visão crítica sobre a participação do homem no parto na sociedade conservadora, que é a de um espectador nervoso, quando na verdade ela pode ser ativa. Outra coisa, grande parte dos homens se vêem na contigência de cuidar das crianças desde o princípio e eles, naturalmente, gostam de discutir essa experiência. Muitos homens gostariam também, como já existe na Suécia, de tirar a licença pós-parto, de cumprir esse papel. Às vezes a mulher tem uma tarefa mais importante e nem está amamentando, mas está de licença. Então, é necessário que a licença seja paga ao pai, ao homem. Destas reflexões devem resultar uma série de medidas e propostas que podem ajustar um pouco a sociedade a essa transformação.

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Hoje Fernando Gabeira se dedica à profissão de jornalista, fazendo matérias para a Globonews e para o G1 e escrevendo artigos para seu próprio blog e para O Globo.

A página da Wikipedia mostra um pouco do que vem sendo a vida política de Gabeira:
"Em 1986, após voltar ao Brasil, Gabeira foi candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo PT, tendo sido derrotado por Moreira Franco; em 1989 concorreu à Presidência da República já pelo Partido Verde, obtendo 0,18% dos votos. 
Em 1994, Gabeira é eleito deputado federal pelo PV do Rio de Janeiro, sendo reeleito em 1998. Em 2002, trocou o PV pelo PT, sendo novamente eleito. Após considerar inaceitável a conduta do partido no início do governo Lula, em outubro de 2003 decidiu abandonar mais uma vez o PT, ficando algum tempo sem legenda. Um ano e meio depois estouraria o Escândalo do Mensalão. 
Em 2005, na Câmara, Gabeira chamou o então presidente Severino Cavalcanti de "vergonha para o país" e ameaçou começar um movimento para derrubar Severino se este continuasse a apoiar em nome do Congresso empresas que utilizam trabalho escravo.4 Também participou da CPI das Sanguessugas, em 2006, como um dos sub-relatores. 
Filiando-se novamente ao PV, Gabeira concorreu à reeleição em 2006 e foi o deputado federal mais votado do Rio de Janeiro com 293.057 votos. 
Em 2008 Gabeira lançou uma campanha à prefeitura do Rio de Janeiro em uma aliança com o PSDB e o PPS. Ficou em segundo lugar no primeiro turno daquela eleições com 839.994 dos votos (25.61% dos válidos). No segundo turno, obteve 1.640.970 de votos (49,17% dos válidos) e perdeu por uma diferença de apenas 1,66% para Eduardo Paes.
Em 2009 Gabeira admitiu o uso indevido da sua cota parlamentar de passagens aéreas, possibilitando que terceiros, cujos nomes não foram divulgados, viajassem utilizando o dinheiro público. O próprio deputado federal admitiu à época que este escândalo pode significar a sua morte política, tendo inclusive cogitado abandonar a carreira pública, mudando de opinião logo em seguida.
 
Gabeira se candidatou a governador do Rio de Janeiro nas eleições de 2010, tendo ficado em segundo lugar com 20,68% dos votos válidos, derrotado pelo governador Sérgio Cabral Filho. 
Em 2010, em um projeto com a presidenciável Marina Silva, lançou o jogo online "Um Mundo" que aproveita a onda dos jogos de criação no estilo "Farm" e convida o visitante, mesmo não simpatizante, a contribuir com a criação de um mundo melhor.
No segundo turno das eleições presidenciais de 2010, Gabeira declarou apoio à candidatura de José Serra."

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